Vivo!

Após passar por dias cobertos pela neve, temperaturas chegando até menos 5 e, se assim podemos dizer, dias reclusos, a primavera aparece e muda a configuração de muitas coisas. Como brasileiro e, sobretudo, nordestino, eu nunca cheguei a sentir nem a viver o frio. Uma das coisas que eu mais estou gostando é perceber a transitoriedade das estações do ano. Cheguei por aqui durante o outono, vivi todo esse inverno e agora aqui estamos na estação que estou mais gostando. A sensação de poder portar menos roupas (mas não torrar nem viver suado), de ver o sol retomar seu posto e aproveitar o que isso traz é muito bom. Tem se tornado rotina aqui em Toulouse ir para a beira da Garonne com os amigos, ver vários grupinhos de músicos amadores improvisando de batucadas até jazz e curtir tudo isso. Comprei uma bicicleta no começo do mês e hoje dei uma volta pela cidade com o pessoal da residência. Eu já tinha relatado como dia de domingo tem uma conotação saudosista, uma vez que é o dia que eu basicamente fico em casa e ligo para o Brasil. Hoje foi a primeira vez que eu senti o contrário. Ligar para o Brasil e associar tudo de uma maneira diferente. É como se o poder de associação de idéias e sentimentos pudessem ser modificados a partir de quando você começa a ver as conexões vindas do outro lado. Ir para as ruas e ver várias pessoas praticando esportes, se divertindo e interagindo também contribui para essa mudança de estado de espírito.
Também chegou por essas bandas a confirmação do dia em que eu volto para Recife. Após várias tentativas, mudanças e indecisões é que ficou decidido que pego o vôo entre Lisboa e Recife no dia 14 de julho. Deixarei Toulouse no dia 06 de julho e aproveitarei uma semana para conhecer a capital portuguesa - sim, eu sei que eu perdi a oportunidade de ir com todo mundo e que ali foi o melhor momento da viagem de todos juntos.
E assim vai começando a primavera... Também voltei a postar, estão vendo? Até porque sou mesmo "precário, provisório, perecível; falível, transitório, transitivo; efêmero, fugaz e passageiro. Eis aqui um vivo! Eis aqui um vivo!".

Cartesianismos

René Descartes foi um filósofo, matemático e físico francês lá pelos idos do século XVII. O cara é conhecido como um dos principais nomes da famosa Revolução Científica, além de ser considerado o pai da Matemática Moderna e fundador da Filosofia Moderna. Eu não entendo, nunca entendi e acho que nunca vou entender o que a fusão da álgebra com a geometria quer dizer, nem do que se trata a tal da Geometria Analítica, sem contar o Sistema de Coordenadas criado por ele. Deu para perceber em que ele foi importante, né?
O cara também criou seu próprio método, que ficou conhecido como Ceticismo Metodológico. Isso quer dizer, em palavras muitos simples, que ele é baseado em duvidar das próprias dúvidas. Só existe aquilo que eu posso provar e eu existo porque penso... O ato de duvidar é indubitável! O método aí, basicamente, é posto em prática da seguinte forma: VERIFICAR se há existência real sobre o que se estuda, ANALISAR, que é entendido como DIVIDIR ao máximo as coisas de acordo com suas características, composição etc, SINTETIZAR, que é entedido como agrupar novamente as unidades divididas anteriormente e ENUMERAR todas as conclusões, a fim de manter uma ORDEM do pensamento.
A herança cartesiana continua no mundo inteiro e aqui na França os acadêmicos são muito orgulhosos desse cartesianismo. Orgulho que chega a momentos ridículos e comparações esdrúxulas. Esse latino-americano que aqui escreve segue um curso de História do seu continente numa Universidade européia e, além de presenciar um curso voltado para europeus que não conhecem nada do que se passou do outro lado do Atlântico, tem que aturar 4 horas de ignorância de um professor. A ignorância passou por momentos em que ele afirmou que não houve resistência indígena na América e chegou ao ponto máximo na última aula dele do semestre. Ao fazer um comentário (à française, bien entendu) do texto do economista brasileiro Celso Furtado, ele arrotou todos esses cartesianismos, orgulhos e repressões. Segundo o senhor lá, intelectuais latinos são, se assim podemos dizer, enrolões. É um pensamento cíclico, sem ORDEM, não SINTETIZADO... É um falar muito para dizer quase nada. Passando pela sessão ridícula, o cara veio falar que não gostava de congressos com latinos pois é um "lenga-lenga". Semana que vem é outro professor para a mesma disciplina e o antigo fechou sua cadeira com uma demonstração de como uma pessoa pode estudar e trabalhar com aquilo que lhe irrita.
Nem vou entrar naquele assunto de "a ciência já evoluiu o bastante para...", só me surpreendeu tamanha falta de conhecimento e exacerbado orgulho de método. Ele só saiu da rigidez do seu pensamento por causa da minha cara de espanto diante daquela baboseira dele. No mínimo ele alegou que eram culturas diferentes... mas, óbvio, a dele é melhor e mais desenvolvida. Bom, e a vida continua para Bruno no meio dos cartesianos...

Parada atual: Barcelona

Saudações desde a Catalunha! Hoje o Barça foi campeão mundial e a capital catalã está em festa. Não sei e não vi nada do jogo, no entanto a festa nas ruas o buzinaço na rua me fizeram saber da novidade. Durante o jogo eu estava na Praça da Espanha, onde tem o museu de Miró, o Estádio Olímpico, Museu de Arte Catalã, Museu Etnológico da Catalunha e um monte de outras coisas. Dá para ficar um dia todo andando por ali e a conhecer todas as opções que aquele complexo oferece. À noite e num frio de doer começou a dança das águas. Na Praça de Espanha tem uma fonte, as águas dessa fonte sobem e descem animadas por várias luzes e músicas. Muito legal, de graça e bonito.

Durante esses dois dias catalães já deu pra ver várias coisas de Gaudí (Casa Batló e La Pedrera). Ele é o Niemeyer espanhol! Haha. Postarei fotos assim que der, mas adianto que não estou com meu computador e por isso as coisas ficam mais difíceis nesse sentido. O hostel que eu tô é o CentricPoint, fica no Paseo de Gracia, ou algo do tipo. Aqui é bem limpo, organizado e o quarto tá praticamente só entre a gente (Tevez, Júlia, Sílvio e eu), além de ter banheiro aqui mesmo.

Bom, ainda vou pro Parque Guell, Camp Nou, Sinagoga Medieval, Bairro Gótico... Barcelona é rica, viva e CHEIA de coisa pra fazer.

Like a Rolling Stone

"How does it feel
How does it feel
To be without a home
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?"

Estou aumentando o espaço de tempo para postar. Sai dos 10 dias e acho que já cheguei nos 15 dias, né? Passo aqui para deixar algumas novidades e avisar o que está por vir.
A demanda pela minha mão-de-obra tem aumentado e acho que esse mês eu vou bater o recorde de arrecadamento na minha história. Tá, eu sei que vou ganhar em Euros... Antes da demanda aumentar eu tive um certo problema com o cara que me "contratou" pois um dia aí eu acordei às 5 da manhã para trabalhar e quando chego na estação de metrô já tinha alguém para o meu posto. Bom, reclamei e acho que agora tá tudo normal.
Tive a prova e acho que foi interessante. Na segunda eu devo receber a nota e, se for boa, eu digo a vocês.
Bom, dia 17 eu começo a viajar... Primeira parada: Barcelona.

Escrever, escrever e escrever e o Fantástico blog que se atualiza a cada 10 dias.

Eu deveria começar o post com pedidos de desculpas, mas acho que vou começar com uma conclusão: minhas promessas podem mesmo ser variáveis. Eu disse que eu postaria algo sobre Sevilha, cidade em que fiquei 5 dias durante o começo do mês, no entanto tudo tem ocorrido tão rapidamente, às vezes eu acho que não é muito útil escrever aqui o que pensei que acabo por deixar muita gente sem notícia. A verdade é que eu escrevi um pouco sobre Sevilha no meu Diário de Bordo (hehehe) e qualquer dia eu posso, se eu mudar de idéia quanta a utilidade, escrever aqui um pouco mais. Sim, o que eu achei mais bonito e interessante, à parte da arquitetura, das cores e tudo mais, foi rever os amigos e ter uma semana de contato brasileiro, unicamente. Nessa parte de cores, arquitetura e História vocês podem entrar no meu orkut e ver algumas fotos. Depois eu acho que vou começar a armazenar as fotos no Picasa, mas não por enquanto.
Bom, meu Diário de Bordo não ficou repleto de idéias Sevilhanas e me culpo até um pouco por causa disso. Não escrever e não manter um contato entre o que eu penso e vivo é, muitas vezes, uma ausência em mim, entende? Ontem eu senti muito isso durante a minha primeira aula de francês aqui em Toulouse. O título do curso é "Escrita em francês nas Ciências Sociais" e ela repetiu várias vezes a importância da escrita. Não foi um "blablabla" à toa e eu me senti muitas vezes identificado com as palavras dela. Antes de mais nada eu fiquei com uma imensa vontade de dominar logo o francês mesmo que eu tenha crescido muito nesse conhecimento. É infantil e, talvez, até deprimente se expressar com as mesmas frases e não ter outras para dizer exatamente aquilo se se sente, se vê e o que se quer.
Notícias expressas: Já estou todo regular na França (Exame médico ontem e titre de séjour em mãos). Voltei a trabalhar (Entregar um papel sobre consumo consciente de sal e chocolates em alguma estação longe pra caramba). Terei prova no dia 30 de novembro (o professor disse que estudante estrangeiro já começa com 10 - a nota é de 0 a 15). Não vou mais pra Bordeaux (Tenho prova um dia depois da chegada de Bordeaux - Terei outras oportunidades, seguro!). Falta 1 mês para começar a grande viagem :D

Não é preciso apagar a luz...

Bom dia, Sevilha! Depois de quase dois dias em trânsito, inclusive tendo passado uma única noite na capital espanhola, cheguei ao meu destino final: Sevilha. Bom, deixa eu falar antes um pouquinho de Madrid, né? Não que eu tenha muito a dizer, afinal foi só o tempo de chegar e sair. A primeira coisa que ficou foi a certeza que preciso voltar lá. A segunda é que a cidade é enorme! Se não fosse a presença de Lorena, madrilenha que eu falava pelo msn quando eu tentatava aprender espanhol, no aeroporto e no metrô de Madrid... Comi no Museu do Jamón, fui na Plaza Mayor e vi o Palácio Real. Nada comparado com o que ainda falta a fazer por lá.
Para chegar a Sevilha eu vim de ônibus desde Madrid. Seis horas dentro de um ônibus com um monte de gente falando espanhol e eu não conseguindo entender direito. Do meu lado estava um espanhol que morou em Lyon e ele tava a fim de praticar o francês (e eu não me coloquei contra, uma vez que eu me sinto realmente ridículo falando portunhol).
Aqui em Sevilha tá tudo ótimo. O clima da casa do pessoal é massa, o apartamento fica num bairro legal e Sevilha é uma cidade muito bonita. Fico aqui mais 5 dias e eu prometo escrever algo sobre a cidade, ok?
Bom, pra continuar o título do post... "Eu fecho os olhos e tudo vem num caleidoscópio sem lógica".

Última semana de férias e primeiro dia de aula.

Após muitas reclamações, e-mails revoltados e palavras de insulto pelo Skype eu volto a postar. Assim como o outono, a internet também chegou por essas bandas do mundo. Sim, agora eu posso falar pelo skype usando webcam, ficar mais de 30 minutos sem cair da internet e atualizar o blog quando eu achar que aconteceu algo digno de um post. O outono chegou, fez frio durante a semana passada e agora tá um climinha agradável pra caramba. Seus 12 graus pra lá, fumacinha saindo pela boca durante as primeiras horas da manhã e um tabacudo baforando.
Deixando dessas besteiras, vos informo que a última semana foi deveras acolhedora. Pronto! Tá aí uma palavra boa pra Toulouse: acolhedora. A Semana do Estudante contou com umas duas soirées, um bocado de atividades culturais e uns tantos shows. Fica aqui a dica de três grupos que vi tocar em Toulouse na última semana. L'Artichaut Orkestra (Yiddish Rock'n'Free!) (http://www.myspace.com/l39artichautklezmerorkestra), La Marmaille (http://www.myspace.com/lamarmaille) e Dounshaq (http://www.myspace.com/dounshaqmusic).

Depois de quase quatro meses sem aula eu voltei a me sentar para ouvir um professor falar durante mais de 2 horas. Não diria que estava sentindo saudade, mas com certeza já tava me sentindo meio inútil. A diferença da última aula há quatro meses e a de hoje foi, obviamente, o tema e a língua utilizada. Sério mesmo, as quatro horas que eu passei escutando sobre a História da Shoah (é um termo que a galera tá usando para substituir Holocausto, afinal holocausto quer dizer sacríficio aos deuses em grego, se não me engano) foram muito mais proveitosas, agradáveis e esclarecedoras do que qualquer um ano de História Contemporânea na UFPE. Amanhã eu vou ver aulas do curso de Historia da América Latina e, talvez, na quarta eu veja a aula sobre imigrantes na Europa. Não sei se vou cursar este último já que ainda devo ter aulas de francês. Bom, o resultado do teste foi Nível 4 entre 5 níveis. Não foi nada mal e por isso acho que vou ter aulas de francês num curso sobre A Ciência e a Cultura do Vinho. Aqui os cursos de francês são meio que por temas e lá você desenvolve vocabulário e essas coisas. Acho que também vou fazer um curso para Expressão Escrita nas Ciências Sociais.
Ah, a outra novidade é que no dia 05 de novembro vou para Madrid, passo um dia e depois vou para Sevilha. Luiz Paulo, Débora, Luiza e Natália, Vamo p'alante, Sevilla!