Sunday, March 28, 2010

Vivo!

Após passar por dias cobertos pela neve, temperaturas chegando até menos 5 e, se assim podemos dizer, dias reclusos, a primavera aparece e muda a configuração de muitas coisas. Como brasileiro e, sobretudo, nordestino, eu nunca cheguei a sentir nem a viver o frio. Uma das coisas que eu mais estou gostando é perceber a transitoriedade das estações do ano. Cheguei por aqui durante o outono, vivi todo esse inverno e agora aqui estamos na estação que estou mais gostando. A sensação de poder portar menos roupas (mas não torrar nem viver suado), de ver o sol retomar seu posto e aproveitar o que isso traz é muito bom. Tem se tornado rotina aqui em Toulouse ir para a beira da Garonne com os amigos, ver vários grupinhos de músicos amadores improvisando de batucadas até jazz e curtir tudo isso. Comprei uma bicicleta no começo do mês e hoje dei uma volta pela cidade com o pessoal da residência. Eu já tinha relatado como dia de domingo tem uma conotação saudosista, uma vez que é o dia que eu basicamente fico em casa e ligo para o Brasil. Hoje foi a primeira vez que eu senti o contrário. Ligar para o Brasil e associar tudo de uma maneira diferente. É como se o poder de associação de idéias e sentimentos pudessem ser modificados a partir de quando você começa a ver as conexões vindas do outro lado. Ir para as ruas e ver várias pessoas praticando esportes, se divertindo e interagindo também contribui para essa mudança de estado de espírito.
Também chegou por essas bandas a confirmação do dia em que eu volto para Recife. Após várias tentativas, mudanças e indecisões é que ficou decidido que pego o vôo entre Lisboa e Recife no dia 14 de julho. Deixarei Toulouse no dia 06 de julho e aproveitarei uma semana para conhecer a capital portuguesa - sim, eu sei que eu perdi a oportunidade de ir com todo mundo e que ali foi o melhor momento da viagem de todos juntos.
E assim vai começando a primavera... Também voltei a postar, estão vendo? Até porque sou mesmo "precário, provisório, perecível; falível, transitório, transitivo; efêmero, fugaz e passageiro. Eis aqui um vivo! Eis aqui um vivo!".

Thursday, February 4, 2010

Cartesianismos

René Descartes foi um filósofo, matemático e físico francês lá pelos idos do século XVII. O cara é conhecido como um dos principais nomes da famosa Revolução Científica, além de ser considerado o pai da Matemática Moderna e fundador da Filosofia Moderna. Eu não entendo, nunca entendi e acho que nunca vou entender o que a fusão da álgebra com a geometria quer dizer, nem do que se trata a tal da Geometria Analítica, sem contar o Sistema de Coordenadas criado por ele. Deu para perceber em que ele foi importante, né?
O cara também criou seu próprio método, que ficou conhecido como Ceticismo Metodológico. Isso quer dizer, em palavras muitos simples, que ele é baseado em duvidar das próprias dúvidas. Só existe aquilo que eu posso provar e eu existo porque penso... O ato de duvidar é indubitável! O método aí, basicamente, é posto em prática da seguinte forma: VERIFICAR se há existência real sobre o que se estuda, ANALISAR, que é entendido como DIVIDIR ao máximo as coisas de acordo com suas características, composição etc, SINTETIZAR, que é entedido como agrupar novamente as unidades divididas anteriormente e ENUMERAR todas as conclusões, a fim de manter uma ORDEM do pensamento.
A herança cartesiana continua no mundo inteiro e aqui na França os acadêmicos são muito orgulhosos desse cartesianismo. Orgulho que chega a momentos ridículos e comparações esdrúxulas. Esse latino-americano que aqui escreve segue um curso de História do seu continente numa Universidade européia e, além de presenciar um curso voltado para europeus que não conhecem nada do que se passou do outro lado do Atlântico, tem que aturar 4 horas de ignorância de um professor. A ignorância passou por momentos em que ele afirmou que não houve resistência indígena na América e chegou ao ponto máximo na última aula dele do semestre. Ao fazer um comentário (à française, bien entendu) do texto do economista brasileiro Celso Furtado, ele arrotou todos esses cartesianismos, orgulhos e repressões. Segundo o senhor lá, intelectuais latinos são, se assim podemos dizer, enrolões. É um pensamento cíclico, sem ORDEM, não SINTETIZADO... É um falar muito para dizer quase nada. Passando pela sessão ridícula, o cara veio falar que não gostava de congressos com latinos pois é um "lenga-lenga". Semana que vem é outro professor para a mesma disciplina e o antigo fechou sua cadeira com uma demonstração de como uma pessoa pode estudar e trabalhar com aquilo que lhe irrita.
Nem vou entrar naquele assunto de "a ciência já evoluiu o bastante para...", só me surpreendeu tamanha falta de conhecimento e exacerbado orgulho de método. Ele só saiu da rigidez do seu pensamento por causa da minha cara de espanto diante daquela baboseira dele. No mínimo ele alegou que eram culturas diferentes... mas, óbvio, a dele é melhor e mais desenvolvida. Bom, e a vida continua para Bruno no meio dos cartesianos...